
Jornada de trabalho do médico: como é, carga horária e descanso
A rotina médica é, ao mesmo tempo, admirada e mal compreendida. Enquanto muitos imaginam que se trate de uma profissão estável e bem remunerada, poucos conhecem de fato os desafios enfrentados no dia a dia — especialmente quando o assunto é jornada de trabalho.
Quantas horas um médico trabalha por semana? Existem limites legais? Como funciona o descanso entre os plantões?
Neste texto, vou esclarecer esses pontos e mostrar o que diz a legislação sobre carga horária, direitos e deveres da classe médica.
Se acaso você desejar assistência jurídica da nossa equipe nos envie uma mensagem no WhatsApp.
Como é a jornada de trabalho de um médico?
A jornada de trabalho de um médico pode variar bastante, dependendo do tipo de vínculo profissional, da especialidade, do local onde atua (como hospitais públicos, clínicas privadas ou consultórios próprios) e até da fase da carreira.
Muitos médicos, também, acabam acumulando diferentes atividades ao mesmo tempo, ocasionando várias vertentes de trabalho. Por exemplo, um médico pode atender em uma clínica e fazer plantões em hospitais.
Qual a diferença entre jornada de trabalho e escala de trabalho de um médico?
A jornada de trabalho é o total de horas que o médico deve cumprir em seu contrato ou vínculo profissional durante um período determinado, geralmente semanal ou mensal.
Ela indica a quantidade de tempo dedicada às atividades laborais, incluindo consultas, procedimentos, plantões, reuniões, entre outros.
Exemplo: um médico contratado para trabalhar 40 horas semanais tem essa como sua jornada de trabalho, ou seja, deve cumprir essas horas em atividades médicas e correlatas.
A escala de trabalho é a organização prática e detalhada de quando e em quais horários o médico irá cumprir sua jornada. Ela define os turnos, dias e horários específicos em que o profissional deve estar disponível para atuar, especialmente em plantões, emergências e serviços que funcionam 24 horas.
Um médico pode ter uma jornada de 60 horas semanais, mas sua escala define que ele fará plantões nos seguintes dias e horários: segunda-feira das 7h às 19h, quarta-feira das 19h às 7h do dia seguinte, e sábado das 7h às 19h.
Qual a carga horária de um médico por dia?
A carga horária diária de um médico pode variar bastante dependendo do tipo de vínculo, local de trabalho e modalidade de atuação.
Para médicos CLT, no geral, a jornada costuma ser baseada em até 8 horas por dia, totalizando geralmente 40 horas semanais. Já para servidores públicos, a carga horária pode variar entre 4 a 8 horas diárias, conforme o edital do concurso e o regime do órgão público.
Mas vou detalhar abaixo as diferenças de cargas horárias para médicos. Acompanhe!
Regime CLT
Médicos que trabalham em hospitais e clínicas privadas sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) geralmente têm jornadas definidas por contrato. A carga horária mais comum é de:
- 20 horas semanais, reconhecida pela jurisprudência como padrão razoável para a profissão médica;
- Em alguns casos, o contrato pode prever 30 ou até 40 horas semanais, dependendo da instituição e da especialidade.
Além disso, médicos celetistas têm direito a:
- Intervalo mínimo de 11 horas entre jornadas;
- Intervalo intra-jornada (geralmente de 1 hora, em jornadas superiores a 6 horas);
- Descanso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
- Adicional noturno e hora extra, quando aplicável.
Serviço Público
Já no setor público, a carga horária depende do edital do concurso e do ente federativo (União, estado ou município). As jornadas mais comuns são:
- 20 horas semanais, bastante frequente para cargos médicos;
- 30 ou 40 horas semanais, especialmente em programas de saúde da família ou regiões com déficit de profissionais.
Servidores públicos têm regras específicas previstas em estatutos próprios (como o RJU – Regime Jurídico Único, no caso da União) e também contam com:
- Estabilidade após 3 anos de efetivo exercício;
- Direito a férias, licenças e adicionais, conforme o regime do cargo;
- Limites constitucionais de acúmulo de cargos (é permitido acumular até dois cargos públicos de médico, caso haja compatibilidade de horários).
Autônomos
Quem trabalha como profissional liberal ou tem consultório particular tem mais autonomia, mas, na prática, muitos médicos acabam trabalhando mais horas para atender a demanda de pacientes, administrar o negócio e realizar atualizações científicas.
Muitas vezes, o profissional médico autônomo lida com:
- Autonomia total na definição da carga horária: eles mesmos decidem quantas horas por dia e quantos dias por semana irão atender;
- Horários muitas vezes estendidos: para acomodar pacientes que só podem ir fora do horário comercial, muitos médicos acabam trabalhando à noite ou nos finais de semana;
- Acúmulo de funções: além do atendimento clínico, o médico autônomo precisa dedicar tempo para atividades administrativas, como agendamento, contabilidade, compras, marketing e atualização científica;
- Variabilidade da demanda: o fluxo de pacientes pode ser irregular, tornando a jornada pouco previsível e, por vezes, intensa em certos períodos.
- Riscos de sobrecarga: sem uma limitação legal de jornada, é comum que médicos autônomos ultrapassem facilmente 40, 50 ou até 60 horas semanais, o que pode comprometer a saúde física e mental.
Plantões
Os plantões são uma modalidade muito comum de trabalho para médicos, especialmente em hospitais, pronto-socorros, unidades de terapia intensiva (UTI), unidades básicas de saúde (UBS) e serviços de emergência. Eles possibilitam garantir atendimento 24 horas aos pacientes, organizando o trabalho em turnos que se revezam.
Uma forma muito comum de trabalho entre médicos, especialmente em emergências, UTIs e hospitais, é o plantão. Ele pode ser:
- 12×36 (trabalha 12 horas, folga 36);
- 24×72 ou 24×48 em algumas instituições;
- Há médicos que acumulam vários plantões na semana, ultrapassando 60 horas semanais.
Médicos podem acumular vários plantões por semana, o que pode resultar em jornadas totais superiores a 60 horas semanais.
Isso é comum, especialmente em áreas carentes de profissionais ou em especialidades que demandam atendimento contínuo, como emergência, anestesiologia e medicina intensiva.
Médicos residentes
A residência médica é uma etapa de formação especializada essencial para muitos médicos, mas também uma das fases mais intensas da carreira. Durante esse período, o residente alia aprendizado prático com alta demanda de trabalho, enfrentando uma jornada que pode ser bastante exaustiva.
- Jornada de trabalho na residência;
- A carga horária máxima permitida para residentes é de 60 horas semanais, conforme a Resolução CNRM n.º 11/2014 (Comissão Nacional de Residência Médica).
Esse total inclui o tempo destinado aos plantões, que fazem parte da formação prática e são obrigatórios.
Apesar da legislação, a rotina pode ultrapassar o limite de horas, devido à demanda e à escassez de profissionais.
Médicos cirurgiões
Os médicos cirurgiões enfrentam uma rotina de trabalho que, embora compartilhe características com outras especialidades, possui demandas e desafios próprios devido à natureza das cirurgias e da responsabilidade envolvida.
A jornada do cirurgião pode variar conforme o local de atuação (hospital público, privado ou clínica especializada), a complexidade das cirurgias e o volume de pacientes.
É comum que a jornada ultrapasse às 40 horas semanais, devido a consultas pré e pós-operatórias, cirurgias e plantões.
Cirurgiões participam geralmente de plantões para atender urgências e emergências, como traumas, apendicites, cesarianas e outras intervenções que não podem ser adiadas.
Além disso, esses plantões podem ser longos e imprevisíveis, exigindo disponibilidade imediata.
Quantas horas de descanso tem um médico?
A rotina do médico é marcada por longas jornadas, plantões e alta responsabilidade, tornando o descanso um fator essencial para a saúde física e mental do profissional.
Entender quantas horas de descanso são garantidas por lei e como elas funcionam na prática é fundamental para garantir o bem-estar do médico e a qualidade do atendimento aos pacientes.
Neste tópico, vou esclarecer os direitos relacionados ao tempo de descanso, incluindo intervalos entre jornadas, pausas durante o expediente e descanso semanal remunerado.
Intrajornada
A intrajornada, ou pausa durante o trabalho, são para jornadas superiores a 6 horas, é obrigatório um intervalo para descanso e alimentação, geralmente de 1 hora.
Em muitos serviços médicos, esse intervalo pode ser reduzido ou adaptado, especialmente em plantões, mas deve ser respeitado sempre que possível.
Interjornada
Já no caso do intervalo interjornada, o intervalo entre jornadas, a legislação trabalhista prevê que o médico deve ter, no mínimo, 11 horas consecutivas de descanso entre o término de uma jornada e o início da próxima.
Isso significa que, se um médico termina seu expediente às 20h, ele só deve voltar a trabalhar depois das 7h do dia seguinte.
Descanso semanal remunerado
O Descanso Semanal Remunerado é o direito garantido pela legislação trabalhista que assegura ao trabalhador, inclusive aos médicos, um período mínimo de repouso semanal com remuneração garantida.
Como funciona para médicos?
Para médicos com contrato CLT ou estatutário, o DSR deve ser respeitado como parte dos direitos trabalhistas.
Em regimes de plantão, a escala deve ser organizada para garantir que o médico tenha, pelo menos, um dia inteiro de descanso remunerado por semana.
Para médicos autônomos, o DSR não é obrigatório por lei, já que são profissionais liberais, mas é recomendável organizarem a rotina para incluir descanso semanal para preservar a saúde.
Como o salário do médico é calculado em relação à jornada de trabalho?
O cálculo do salário do médico em relação à jornada de trabalho depende do tipo de vínculo, do regime de contratação e das horas efetivamente trabalhadas. Vou explicar os principais aspectos:
Médicos contratados pelo regime CLT:
O salário é geralmente acordado para uma jornada fixa, por exemplo, 40 horas semanais.
Se o médico trabalha exatamente essa jornada, recebe o salário combinado mensalmente.
Horas extras (acima da jornada contratual) devem ser pagas com adicional, geralmente de 50% a 100% sobre a hora normal, dependendo da legislação e do acordo coletivo.
Plantões fora da jornada normal podem ser pagos como hora extra ou como valores específicos, conforme contrato.
Médicos servidores públicos:
O salário é definido pelo cargo e a jornada prevista no concurso público, por exemplo, 20 ou 40 horas semanais.
Adicional por plantões, gratificações e outras vantagens podem ser incorporados, conforme regulamento do órgão.
Não há pagamento formal de horas extras, mas plantões são remunerados de forma específica.
Médicos autônomos:
Não têm salário fixo, ao serem remunerados por consulta, procedimento ou plantão.
A “jornada” pode variar muito, e a remuneração depende da quantidade de atendimentos realizados e acordos firmados com clínicas ou hospitais.
Plantonistas:
Normalmente recebem um valor fixo por plantão, que varia conforme a duração (12, 24 horas, etc.) e local de atuação.
A remuneração pode ser acumulada com salário fixo ou ser a única fonte de renda.
Médicos recebem horas extras caso trabalhem além da jornada?
No geral, sim. Mas as horas extras variam conforme o regime do trabalho do médico.
No caso de médicos contratados pelo regime CLT, a hora extra deve ser remunerada com um adicional de pelo menos 50% sobre o valor da hora normal, podendo chegar a 100% em casos específicos, como trabalho noturno, feriados ou domingos (depende da legislação e convenção coletiva).
O controle da jornada e das horas extras deve ser feito pelo empregador.
Já para médicos servidores públicos, geralmente, não recebem horas extras da mesma forma que na CLT.
Para compensar o trabalho além da carga horária, geralmente há pagamento por plantões, gratificações ou banco de horas, conforme regulamento do órgão público.
Algumas categorias podem ter regras específicas previstas em leis ou acordos sindicais.
E médicos autônomos não têm jornada fixa e, portanto, não recebem horas extras; a remuneração é por serviço realizado.
Plantonistas recebem valor fixo por plantão, independentemente do número de horas, conforme acordo com o hospital ou clínica.
Como a assistência jurídica do Medic Safe pode ajudar um médico com a jornada de trabalho?
A jornada de trabalho do médico é marcada por particularidades e desafios que envolvem não apenas o aspecto físico e emocional, mas também questões legais complexas.
A assistência jurídica especializada do Medic Safe está preparada para apoiar o médico em diversas frentes, auxiliando em que seus direitos sejam respeitados e que ele tenha respaldo profissional para enfrentar situações adversas.
No âmbito trabalhista, o Medic Safe ajuda a esclarecer dúvidas sobre contratos, jornadas, horas extras, descansos e plantões, orientando o médico sobre seus direitos e auxiliando em eventuais negociações ou disputas judiciais. Com uma assessoria jurídica sólida, o profissional pode assegurar condições justas de trabalho e evitar abusos que comprometam sua saúde e carreira.
Além disso, a equipe do Medic Safe oferece suporte criminal, fundamental para proteger o médico contra acusações infundadas relacionadas ao exercício da profissão, muitas vezes derivadas de questões envolvendo a jornada extenuante e pressões do ambiente de trabalho.
Na esfera tributária, o Medic Safe orienta sobre a melhor forma de organizar e otimizar a remuneração, especialmente para médicos autônomos e plantonistas, considerando a variabilidade da jornada e da renda.
Por fim, o suporte previdenciário é essencial para o médico compreender e planeje sua aposentadoria, considerando a carga horária especial e os riscos inerentes à profissão.
Com uma assistência jurídica completa e especializada como a do Medic Safe, o médico encontra um parceiro confiável para proteger sua carreira, seus direitos e sua tranquilidade, e cuidando para que a complexidade da jornada de trabalho seja gerida com segurança e respaldo legal.
Conclusão
A jornada de trabalho do médico pode variar bastante conforme o vínculo empregatício, a especialidade e o local de atuação.
Embora a legislação brasileira preveja regras claras sobre carga horária e descanso, a prática muitas vezes desafia esses limites.
Entender esses direitos é essencial não somente para conquistar a saúde física e mental dos profissionais, mas também para assegurar um atendimento mais seguro e humano à população.
Ao buscar equilíbrio entre dedicação, qualidade de vida e apoio jurídico especializado, o médico fortalece sua atuação — e também sua própria saúde.
Se acaso você desejar assistência jurídica da nossa equipe nos envie uma mensagem no WhatsApp.
Eduardo Koetz
Eduardo Koetz, advogado inscrito nas OAB/SC 42.934, OAB/RS 73.409, OAB/PR 72.951, OAB/SP 435.266, OAB/MG 204.531, sócio e fundador da Koetz Advocacia. Se formou em Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos e realizou pós-graduação em Direi...
Saiba mais